A história da tortura é uma história de exercício de poder. Não aquele tipo de poder que todos temos, o poder de realizar tarefas do dia a dia, a potência de nos colocarmos no mundo. É uma história institucional, do uso das instituições contra uma pessoa. Aquele tipo de briga injusta – de um lado um pequeno David; de outro, um Golias com toda a sua pompa (e, no caso, com legitimação do Estado, manicômio ou igreja). Assim como nos mitos, a tortura sempre começa de uma maneira fundamentada: há uma grande ameaça que deve ser dizimada, ou todos morreremos; mas sempre termina como uma forma de punição por ir contra Golias, falar mal de Golias, discordar publicamente de Golias… Ou seja, o que era um discurso de ameaça perde a força rapidamente, e se torna punição da diferença. Não tem certeza? Vamos lá que explico!